Dona Baratinha
Texto de Cristina Porto
Baratinha era solteira,
mas queria se casar.
Com marido e muitos
filhos
não parava de sonhar.
Certo dia foi varrer
lá debaixo da escada e
encontrou,
escondidinha,
a moeda mais dourada.
“Estou rica!”
pensou ela,
ajeitando o saiote.
“Vou achar um bom
marido,
pois sou rica e tenho
dote.”
Pôs na caixa o
dinheiro,
arrumou-se lindamente
e ficou lá na janela
aguardando um
pretendente.
Logo todo mundo soube
do achado da barata.
E o peru veio
apressado,
já querendo marcar
data.
“Eu cheguei! Sou o
primeiro!”
disse ele esbaforido,
“Não precisa buscar
mais,
eu vou ser o seu
marido!”
“Estou vendo que o
senhor
é bonito e é honesto.
Mas eu devo lhe dizer
que barulho eu
detesto!”
“Barulheira me
assusta
e até me faz cair.
Me dispara o coração
E não me deixa
dormir!”
“O senhor agora sabe
porque eu não casei
ainda.
Para alguém casar
comigo,
tem que ter uma voz
linda.”
“Minha voz é
maravilha
e nunca assustou
ninguém.
GLU GLU GLU, veja que
lindo!
Voz como essa ninguém
tem!”
“Que horror! Fora
daqui!”
disse a Dona Baratinha.
E o peru, de crista
baixa,
foi-se embora
depressinha.
O segundo candidato
era um belo de um
cabrito.
“Eu me caso com a
senhora,
veja como sou bonito!”
“Quero ouvir a sua
voz,
mostre já como ela é”.
O cabrito abriu a boca
e soltou um grande BÉÉ!
Pobrezinha da barata,
ela quase desmaiou.
O cabrito foi-se embora
e ali nunca mais
voltou.
Muito bicho apareceu
pra casar com
Baratinha.
Mas a voz de todos eles
só assustou a
pobrezinha.
Mas ai veio chegando
Dom Ratão, bem
devagar.
E falava tão baixinho.
Que mal dava pra
escutar.
“Que ouvir meu
barulhinho?
É CUIM, CUIM, CUIM …
Eu sou calmo e
reservado,
Minha voz é sempre
assim.”
Baratinha se encantou,
não pensou nem duas
vezes,
Do noivado ao casamento
se passaram poucos
meses.
Para o grande dia
estava
preparado um banquete.
Dom Ratão buscou a
noiva
de cartola e de colete.
Quando pôs o pé na
casa,
Dom Ratão estremeceu.
Foi direto pra cozinha
e da noiva esqueceu.
“É toucinho, é
feijoada
neste enorme caldeirão?
Pro meu prato predileto
como posso dizer não?”
Foi aí que se escutou
um gemido de aflição.
Dom Ratão tinha caído
na panela do feijão!
Dom Ratão saiu de lá
feio, sujo e bem
pelado.
Baratinha, ao ver
aquilo,
desmanchou logo o
noivado.
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